quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Notícia sobre a Somália





Até metade da ajuda alimentar enviada à Somália é desviada das pessoas que necessitam dela para uma rede de intermediários corruptos, militantes radicais islâmicos e funcionários locais da ONU, segundo um novo relatório do Conselho de Segurança.
O relatório, que ainda não foi divulgado, mas que foi mostrado ao “New York Times”, traça uma série de problemas tão graves que ele recomenda ao secretário-geral Ban Ki-moon a abertura de uma investigação independente do Programa Mundial de Alimentos de lá. Ele sugere que o programa reconstrua o sistema de distribuição de alimentos –que atende pelo menos 2,5 milhões de pessoas– a partir da estaca zero para quebrar o que descreve como um cartel corrupto de distribuidores somalis.
Além do desvio da ajuda alimentar, as autoridades regionais somalis estão colaborando com os piratas que sequestram navios ao longo da costa sem lei, diz o relatório, e os ministros do governo somali leiloaram vistos diplomáticos para viagens à Europa para quem desse o maior lance, alguns deles podendo ser piratas ou insurgentes.
via: New York Times

Acesso em 11/08/2011

http://www.geomundi.org/?p=1696

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira



sábado, 11 de junho de 2011

Fotos: Angola

                             
País: Angola   Cidade/Região: Arredores de Luanda  2003
                             Imbondeiro (Baobá)



  País: Angola   Cidade/Região: Arredores de Luanda  2003

                              Miradouro da Lua 


http://www.casadasafricas.org.br/banco_de_imagens/zoom//pais/Angola/2143
Acesso: 11/06/2011


Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira




 

O neo-colonialismo em África.


Kwame Nkrumah

1O maior perigo que a África enfrenta actualmente é o neo-colonialismo, cujo principal instrumento é a balcanização. Este termo define de modo particularmente correcto a fragmentação da África em estados pequenos e fracos; foi inventado para designar a política das grandes potências que dividiram a parte europeia do antigo Império Turco e criaram na península balcânica vários Estados dependentes e rivais entre si. O resultado desta política foi criar um barril de pólvora que qualquer faísca podia fazer explodir. De facto, a explosão produziu-se em 1914, com o assassinato do arquiduque austríaco em Sarajevo. Como os países balcânicos estavam estreitamente ligados às grandes potências e às suas rivalidades, o assassinato teve como consequência a primeira guerra mundial, a maior desencadeada até então.

Uma guerra mundial poderia também rebentar facilmente no nosso continente, se os estados africanos realizassem alianças políticas, económicas ou militares com potências exteriores seus rivais. Vários comentadores políticos têm afirmado que a África se tornou o novo e vasto campo de batalha da guerra fria.
À medida que a luta nacionalista se intensifica nos países colonizados e a independência surge no horizonte, as potências imperialistas, pescando nas águas turvas do tribalismo e dos interesses particulares, tentam criar cisões na frente nacionalista para conseguir a sua fragmentação. A Irlanda e a Índia são exemplos clássicos. Os Franceses desmembraram a Federação da África Ocidental e a da África Equatorial. A Nigéria foi dividida em regiões, prevendo-se novas separações. O Ruanda-Burundi foi fragmentado com a independência. No Gana, como não conseguiram dividir-nos antes da independência, os ingleses impuseram-nos uma constituição destinada a provocar a desintegração da nossa unidade nacional. O Congo, declarado independente com um apressado e malicioso calculismo, tornou-se imediatamente o campo de batalha da divisão fomentada pelos imperialistas.



 Tudo isto faz parte da política de balcanização intencional, com o qual o neo-colonialismo procura manipular a África; de facto, esta política pode ser mais perigosa para a nossa legitima aspiração à independência económica e política que um controle político directo. Lenine, por exemplo, afirma:
Portugal apresenta uma forma de dependência financeira e diplomática acompanhada de independência política. Portugal é um Estado independente e soberano, mas, na realidade, há mais de dois séculos (desde a guerra da Sucessão de Espanha de 1701 a 1714) que é um protectorado inglês. A Grã-Bretanha protegeu Portugal e as suas colónias visando fortalecer as suas próprias posições na luta contra os seus rivais: a Espanha e a França. Recebeu em troca vantagens comerciais, condições preferenciais para as suas exportações de mercadorias e, sobretudo, de capitais, para Portugal e para as suas colónias, o direito de utilizar os portos e as ilhas de Portugal, os seus cabos telegráficos, etc.. etc.2

A forma que o neo-colonialismo apresenta hoje em África reveste-se de alguns destes traços. Actua encoberto, manobrando homens e governos, liberto do estigma da dominação política. Cria Estados-clientes, que são independentes no papel mas que, na realidade, continuam a ser dominados pela própria potência colonial que supostamente lhes deu a independência. É uma das “diversas espécies de países independentes que, no plano político, gozam de uma independência formal, mas que, de facto, estão encurralados na rede da dependência financeira e diplomática”3. As potências europeias impõem certos pactos aos países balcanizados, assegurando o controle da sua política externa. Frequentemente, estes Estados garantem-lhes também bases militares permanentes no seu território. A independência destes Estados é apenas nominal; na verdade, perderam a sua liberdade de acção.
A França nunca pensou em conceder a independência às suas colónias; manteve-as sempre ciosamente guardadas. Quando se tornou evidente que já não era possível continuar a privá-las da soberania nacional, o terreno estava já preparado para manter os jovens Estados independentes na órbita da França. Continuariam a ser fornecedores de matérias-primas baratas e de alimentos tropicais, servindo simultaneamente de mercados reservados para os produtos franceses.
Pouco depois da segunda guerra mundial, a França criou dois organismos financeiros para “auxílio ao desenvolvimento económico” dos seus territórios ultramarinos: o F. I. D. E. S. (Fonds d’ Investissement et de Developpement Économique et Sócial) e a C. C. O. M. (Caisse Centrale de la France d’ Outre-Mer).
As subvenções da C. C. O. M. eram concedidas às antigas colónias francesas para ajudar a suportar as despesas com a administração pública e a manutenção de forças francesas nos seus territórios. O investimento no sector do desenvolvimento económico e social destes territórios era em larga medida um eufemismo, destinado a fazer entrar fundos nas ex-colónias para os fazer voltar à França. Calculou-se que 80% desses “investimentos” voltavam à França sob a forma de pagamento de materiais, serviços, comissões, juros bancários do pessoal francês. Os projectos empreendidos relacionavam-se principalmente com os serviços públicos e a agricultura. Eram terrivelmente inadaptados e mal concebidos, sem consideração pela situação e pelas necessidades locais. Não se procurou lançar as bases de um desenvolvimento industrial ou de uma diversificação da agricultura. O F. I. D. E. S. e a C. C. O. M. deram lugar ao F. A. C. (Fonds d’ Aide et de Cooperation) e à C. C. C. E. (Caisse Centrale de Coopération Économique). Mas estas novas instituições têm exactamente as mesmas funções que as suas predecessoras. O investimento continua a apoiar a produção de culturas exportáveis e as empresas francesas ou firmas que se abastecem de produtos franceses. Os banqueiros e os grandes interesses financeiros franceses, ligados aos maiores transformadores de matérias-primas, são encorajados a intensificar a exploração de minérios nas ex-colónias para os exportar na sua forma bruta.


Assim, embora nominalmente independentes, estes países continuam a viver na relação clássica da colónia com o seu “patrão” metropolitano, isto é, a produzir matérias-primas e a servir-lhe de mercado exclusivo. A única diferença é que agora essa relação está encoberta por uma aparência de ajuda e solicitude, uma das formas mais subtis do neo-colonialismo. Como a França considera que só se poderá desenvolver perpetuando a sua relação actual com os países subdesenvolvidos que se mantêm na sua órbita, isto significa que o fosso entre aquela e estes se irá alargando. Para que este possa vir a ser diminuído, ou mesmo anulado, será necessário renunciar completamente à actual relação de patrão a cliente.

(…)

http://www.buala.org/pt/mukanda/o-neo-colonialismo-em-africa
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira

Um terço da energia já vem de países africanos

16.02.2011    O Estado de S.Paulo

Jamil Chade


Indústrias da Europa temem perda de fornecedores e Departamento de Estado dos Estados Unidos fala em 'tsunami' chinês no Continente

Há poucos meses, líderes europeus receberam uma carta alarmante do setor industrial da Alemanha, França e Reino Unido. Se a Europa não mudasse de estratégia e desse maior atenção à África, o futuro da indústria do Velho Continente estaria ameaçado.

O motivo era simples: a China havia comprado grande número de jazidas de minérios, fonte de energias e recursos naturais na África, em um avanço que não dá sinais de ser freado e com um apetite que parece ser insaciável. Hoje, um terço do abastecimento de energia da China já vem do continente africano.

Pelos cálculos de Pequim, para avançar a China precisa ter o abastecimento de suas necessidades equacionado. O país foi responsável por mais de 50% do aumento no consumo mundial de metais para a indústria entre 2002 e 2005. A produção de aço na China passou de 66 milhões de toneladas para 500 bilhões de toneladas entre 1990 e 2008.

O resultado da entrada desse novo ator foi a explosão nos preços de commodities, que tiveram alta de 159% em seus preços entre 2002 e 2008, segundo o Parlamento Europeu. Nos últimos cinco anos, a China iniciou um safari pela África em busca de acesso às matérias-primas e petróleo. Vários acordos foram fechados nos últimos anos, com exploração de cobre na Zâmbia, cobalto na República Democrática do Congo, ferro na África do Sul e Platinum em Zimbábue.

Em poucos anos, a China se estabeleceu como um dos principais atores na exploração de minérios e outros recursos na África. Na Zâmbia, onde o cobre representa mais da metade das exportações nacionais, Pequim se comprometeu a adquirir quase a totalidade da produção.

A China precisa do cobre para garantir a expansão de sua indústria, principalmente em cabos, no setor automotivo, circuitos integrados e construção. Em 2004, a China já era o segundo maior importador de cobre do planeta. Hoje, consome 25% de tudo o que é vendido.

No Sudão, Pequim já investiu US$ 4 bilhões para a produção de petróleo, desenvolvimento de portos e dutos, tudo com um financiamento estatal.

Em Angola, a China ofereceu um empréstimo de US$ 2 bilhões ao governo de Luanda. Em troca, recebeu a grande parte dos contratos de exploração de blocos de reservas. Cinco anos mais tarde, Angola garante o abastecimento de 500 mil barris de petróleo por dia para a China, um quinto de toda a produção brasileira.

Em apenas cinco anos, a Angola superou a Arábia Saudita e o Irã como maior fornecedor de energia para a economia chinesa, um papel central que jamais teve para a economia portuguesa. O Golfo da Guiné é o próximo passo do avanço chinês em busca de petróleo. A região teria reservas de 110 bilhões de barris e Pequim não economizará em conquistar a região.

Metade da madeira que se corta por ano no Gabão e 60% das toras na Guiné Equatorial vão para a China, ajudando Pequim a se transformar, em 2010, no maior produtor de móveis do planeta.

Não é por acaso, que, em um recente memorando do Departamento de Estado norte-americano, Washington descreveu a conquista chinesa na África como sendo um "tsunami".

É na própria África que o debate ganha um tom de maior polêmica. O ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, admitiu que o continente deve pensar bem antes de fechar acordos com a China e evitar que se transforme em uma "economia colonial" de Pequim. Até 2020, a projeção é de que a China siga elevando a demanda mundial.
 
http://www.casadasafricas.org.br/noticias/01/1068
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira

O tirano que comprou o Ocidente

28.02.2011    El País

Miguel Mora


Até pouco tempo, os líderes mundiais disputavam um encontro com o coronel. A Europa compra 90% de seu petróleo na Líbia e a família Kadafi penetrou no coração das finanças europeias

"Na Itália nos respeitam. Nos Estados Unidos nos respeitam!", bradou o coronel, a cabeça protegida pelo turbante, furioso, erguendo ora o Livro Verde, ora o estojo dos óculos de sol. "Parem de aplaudir e ouçam o que estou falando!"
Seu grito ecoou no espaço vazio das ruínas do palácio-quartel bombardeado pelos EUA, em 1986.
Eram outros tempos: Muamar Kadafi era então o grande fomentador do terrorismo internacional, um pária, o "cachorro louco" de Ronald Reagan. Faz somente dois anos que ele chegou ao topo do G-20 como convidado especial da reunião realizada em L'Aquila (Itália) e os líderes mundiais sorteavam quem teria um encontro de cinco minutos com ele.
Agora, tudo mudou novamente. Nas cidades da Líbia é seu exército quem usa helicópteros, tanques, mísseis, granadas e caças vendidos pelas potências ocidentais para reprimir com sangue e fogo o protesto dos cidadãos que exigem um fim para o regime que dura 41 anos.
Mil mortos, dezenas de milhares de feridos... Ninguém conhece o número exato. Talvez não se saiba durante alguns anos. As milícias de Kadafi apagam as provas do terror e o tirano que expelia ameaças e despautérios para a câmera é hoje um importante agente na cena econômica e financeira internacional.
Um parceiro de peso para muitas empresas e países do Ocidente. Seu principal sócio comercial é a Itália, o segundo é a Alemanha. E mais, a Líbia ocupa o oitavo lugar em reservas de petróleo, com seus intocados 44.300 milhões de barris, e o décimo oitavo em produção, com 1,65 milhões de barris diários.
Kadafi tem razão quando se diz respeitado nos EUA; e na Itália, assim como no Reino Unido, onde investiu em setores como educação, imprensa, futebol e imobiliário. Ou na Espanha, que em 2007 assinou acordos para a venda de armas a Trípoli pelo valor de 1.500 milhões de euros e esperava fechar contratos comerciais no valor de 12.300 milhões de euros, de acordo com um dos telegramas do portal WikiLeaks, enviado pelo embaixador dos EUA em Madrid.
Desde que há seis anos o Governo Bush decidiu condenar o sanguinário Sadam Hussein e tirar Kadafi do ostracismo, esquecendo seus numerosos atos de terror, o ditador líbio usou seu poder absoluto, seus fundos soberanos - o dinheiro líquido procedente dos ganhos com o petróleo - e, em menor escala, suas empresas familiares para investir no Ocidente, reerguer seu país com a ajuda de empresas estrangeiras e ajudar a capitalizar muitas companhias importantes da Europa e dos EUA.

Leia no original a íntegra do artigo em El tirano que compró a Occidente

http://www.casadasafricas.org.br/noticias/01/1077
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira

'O desenvolvimento nos trouxe a fragmentação do tempo, a anulação da história...

05.02.2010    Africaneando/Oozebap

Achille Mbembe

http://africaneando.org/esp/articles/main/zlq1264336800/

A maioria das agências humanitárias ocidentais têm uma noção simplista do que significa "África" e do que é o "desenvolvimento". Não são conscientes, ou ignoram tudo o que gerou a crítica recente do desenvolvimento, enquanto ideologia e prática, e agem como se essa crítica nunca tivesse sido formulada.

O fato é que no terreno, onde muitos de nós vivem e trabalham, o paradigma do "desenvolvimento" morreu. Isto pode ser constatado a cada dia na prática e nas ações das pessoas comuns. Mas a "máquina desenvolvimentista" continua viva, pagando generosamente a especialistas, intermediários e consultores, gastando copiosas indenizações aos seus clientes locais, seus auxiliares e agentes. A "máquina desenvolvimentista" continua funcionando em vão, o que é ainda mais preocupante já que este vácuo produz esbanjamentos consideráveis.
Além disso, a maioria das agências doadoras ocidentais consideram agora a África como uma zona de emergência, um terreno fértil para as intervenções humanitárias. O futuro não faz parte de sua teoria sobre a África (nas escassas exceções onde esta teoria existe). Para estas agências, a África não é apenas uma terra de empirismo, mas também uma terra enraizada no eterno presente, no acúmulo em série de "instantes" que nunca atingem a densidade e peso do tempo humano, histórico. É um lugar onde o "aqui e agora" é mais importante do que o amanhã, para não falar de um tempo distante no futuro ou da esperança.
Foi isso que nos legou a natureza temporária do 'desenvolvimento': a fragmentação do tempo, a anulação da história, enquanto futuro e nossa prisão mental em um tipo de restrição baseada no imediatismo e no niilismo sem fim. Este impulso caótico e agressivo também é particularmente inquietante.

[...] Detesto a idéia que faz da vida na África um simples desapego: o de um estômago vazio e um corpo nu à espera de ser alimentado, vestido, curado ou alojado. É um conceito arraigado na ideologia e na prática do "desenvolvimento" e que vai totalmente ao encontro da experiência pessoal cotidiana das pessoas com o mundo imaterial do espírito, especialmente quando se manifesta em condições de precariedade extrema e de uma insegurança radical.
Este tipo de violência metafísica e ontológica tem sido durante muito tempo um aspecto fundamental da ficção do desenvolvimento que o Ocidente tenta impor àqueles que colonizou. Devemos nos opor e resistir a formas tão hipócritas e desumanizadas.

[...] Quando eu era diretor executivo do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA), eu tinha de manter relações com os fornecedores de fundos públicos na França, Japão, Holanda, agências das Nações Unidas e, especialmente, com os países nórdicos. O relacionamento dependia do calibre intelectual e diplomático das pessoas com que fazia contato. As reuniões mais criativas aconteceram com aqueles que acreditavam que o destino da África estava ligado inevitavelmente com o do resto do mundo. Eles concordavam que uma intervenção criativa e eficaz no continente passava por um conhecimento sério, prolongado e detalhado do país, assim como pela análise e espírito crítico. Com interlocutores assim, frequentemente conseguimos programas criativos e inovadores.

Deixando de lado esses casos, o cenário geral era deprimente. Estávamos constantemente a ter de lidar com burocratas cínicos, pessoas que odiavam profundamente a África, mas que se tornaram dependentes, até tirar proveito de seus prazeres perversos. Custava-lhes livrar-se dessa dependência, e interagiam com o continente do mesmo modo que as pessoas presas em uma relação abusiva. Nem eles acreditavam no catecismo do "desenvolvimento" que pregavam. Eu vivi algumas dessas reuniões como uma primeira visita a um manicômio, frente a pessoas que haviam fracassado ou que nunca poderiam fazer uma carreira honrosa fora da África. Não precisavam de pensar, porque para eles a África era simples. Na verdade, se mostravam muito hostls a qualquer coisa que se assemelhasse a uma idéia.

Ainda mais desconcertante era o pressuposto implícito, particularmente nos países do norte, de que os africanos poderiam expressar-se apenas como vítimas. Ao manifestar a sua solidariedade peos conflitos na África, muitos países ocidentais, infelizmente, perpetraram essa sensibilidade vitimista que alguns intelectuais e políticos africanos propagam desde sempre, embora tentando disfarçá-la com uma aparência anti-imperialista.

Por exemplo, têm tolerado a mediocridade e apoiado, no discurso sobre ciências sociais africanas, a predominância fatal do populismo e do radicalismo. Gastaram (acho que eles ainda estão fazendo isso), milhões de dólares por ano para manter enormes organizações administrativas ineficazes, que deveriam ter sido fechadas há muito tempo e nas quais um número incalculável de intermediários se beneficiam da imunidade diplomática e ganham um salário equivalente àqueles que trabalham para as estruturas das Nações Unidas. Esta forma de paternalismo condescendente tem, é claro, raízes muito consistentes no racismo.

Tradução Casa das Áfricas (a partir do espanhol em Oozebap)
Estas reflexões fazem parte de uma entrevista mais extensa realizada a Achille Mbembe por Vivian Paulissen e publicada no Africultures (2 de Dezembro de 2009) sob o título "Art contemporain d'Afrique : négocier les conditions de la reconnaissance”. Disponível em Africultures.

´http://www.casadasafricas.org.br/noticias/01/918
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira

Moçambique: Vendem-se mortos e vivos .

Cristiana Pereira

http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=11803100&canal=801


Apesar de abolida em 1836, a escravatura persiste nas sociedades contemporâneas sob formas cruéis de exploração. Hoje chamam-lhe tráfico de pessoas e é um lucrativo negócio que movimenta anualmente até 32 mil milhões (bilhões) de dólares - o mais rentável a seguir à droga e às armas.
Fronteira de Ressano Garcia, 13 horas e 37 minutos. Um sorriso expectante ilumina-lhe o rosto inocente. De bebé às costas, a jovem mãe mira ansiosamente o buraco rompido na vedação de arame farpado. Do lado de lá reside a miragem sul-africana, o topo da pirâmide invertida que compõe a geografia do continente mais pobre do mundo. Ao lado dela, o oportunista a quem apelidam de «mareyane» varre as redondezas com o olhar, procurando sinais de patrulha. Do outro lado é melhor?, perguntamos.
Sem hesitação, ela acena que sim. Não lhe incomodam as perguntas nem a proximidade da lente fotográfica. O facilitador explica que recebeu 200 randes (cerca de 30 dólares) pelo serviço de travessia. Domingo, acrescenta ele, é o melhor dia; há muitos a querer atravessar. Logo a conversa é interrompida, cada minuto vale. Momentos depois, desaparecem do lado de lá da fronteira. Nem mãe nem filho adivinham o destino que lhes reserva a terra dos «joni».
A África do Sul é a maior economia de África, tendo integrado em dezembro do ano passado o cobiçado lote dos BRIC, que aglomera os gigantes demográficos do Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional, prevê-se que até 2014 o bloco dos mercados emergentes represente 61% da economia global. Com quase 50 milhões de habitantes (mais do dobro da população de Moçambique), o mais recente parceiro no grupo é a 26.ª economia do mundo, com um Produto Interno Bruto de 527,5 mil milhões de dólares - mais de 50 vezes o de Moçambique. O rendimento per capita ultrapassa os 2500 dólares, comparado com 370 em Moçambique. Do lado de cá, mais de metade da população vive abaixo do limiar da pobreza e a esperança de vida ronda os 40 anos de idade.
Este retrato macroeconómico ajuda a compreender o magnetismo da África do Sul para os fluxos migratórios, legais ou ilegais, voluntários ou forçados, no continente africano. Estima-se que a cada dez minutos entre um clandestino no país. Ao todo, serão cerca de cinco milhões de ilegais, o equivalente a 1% da população.
Leia na íntegra a reportagem de Cristiana Pereira, na edição de abril da África21

http://www.casadasafricas.org.br/noticias/01/1095
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira