sábado, 11 de junho de 2011

O tirano que comprou o Ocidente

28.02.2011    El País

Miguel Mora


Até pouco tempo, os líderes mundiais disputavam um encontro com o coronel. A Europa compra 90% de seu petróleo na Líbia e a família Kadafi penetrou no coração das finanças europeias

"Na Itália nos respeitam. Nos Estados Unidos nos respeitam!", bradou o coronel, a cabeça protegida pelo turbante, furioso, erguendo ora o Livro Verde, ora o estojo dos óculos de sol. "Parem de aplaudir e ouçam o que estou falando!"
Seu grito ecoou no espaço vazio das ruínas do palácio-quartel bombardeado pelos EUA, em 1986.
Eram outros tempos: Muamar Kadafi era então o grande fomentador do terrorismo internacional, um pária, o "cachorro louco" de Ronald Reagan. Faz somente dois anos que ele chegou ao topo do G-20 como convidado especial da reunião realizada em L'Aquila (Itália) e os líderes mundiais sorteavam quem teria um encontro de cinco minutos com ele.
Agora, tudo mudou novamente. Nas cidades da Líbia é seu exército quem usa helicópteros, tanques, mísseis, granadas e caças vendidos pelas potências ocidentais para reprimir com sangue e fogo o protesto dos cidadãos que exigem um fim para o regime que dura 41 anos.
Mil mortos, dezenas de milhares de feridos... Ninguém conhece o número exato. Talvez não se saiba durante alguns anos. As milícias de Kadafi apagam as provas do terror e o tirano que expelia ameaças e despautérios para a câmera é hoje um importante agente na cena econômica e financeira internacional.
Um parceiro de peso para muitas empresas e países do Ocidente. Seu principal sócio comercial é a Itália, o segundo é a Alemanha. E mais, a Líbia ocupa o oitavo lugar em reservas de petróleo, com seus intocados 44.300 milhões de barris, e o décimo oitavo em produção, com 1,65 milhões de barris diários.
Kadafi tem razão quando se diz respeitado nos EUA; e na Itália, assim como no Reino Unido, onde investiu em setores como educação, imprensa, futebol e imobiliário. Ou na Espanha, que em 2007 assinou acordos para a venda de armas a Trípoli pelo valor de 1.500 milhões de euros e esperava fechar contratos comerciais no valor de 12.300 milhões de euros, de acordo com um dos telegramas do portal WikiLeaks, enviado pelo embaixador dos EUA em Madrid.
Desde que há seis anos o Governo Bush decidiu condenar o sanguinário Sadam Hussein e tirar Kadafi do ostracismo, esquecendo seus numerosos atos de terror, o ditador líbio usou seu poder absoluto, seus fundos soberanos - o dinheiro líquido procedente dos ganhos com o petróleo - e, em menor escala, suas empresas familiares para investir no Ocidente, reerguer seu país com a ajuda de empresas estrangeiras e ajudar a capitalizar muitas companhias importantes da Europa e dos EUA.

Leia no original a íntegra do artigo em El tirano que compró a Occidente

http://www.casadasafricas.org.br/noticias/01/1077
Acesso: 11/06/2011

Postado por Marta Aparecida da Silva Teixeira

Um comentário:

  1. Realmente a situação é crítica os países europeus e EUA defendem a democracia ou a ditadura que lhes proporcionem lucros. Quase sempre apoiam o que vence ou que está no poder, não se importam com o regime, só interessam que os lucros venham.

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