quinta-feira, 9 de junho de 2011

ÁFRICA SUBSAARIANA: a última fronteira do capitalismo

 Última região a ser integrada ao sistema capitalis­ta, a porção subsaariana do continente africano, está sendo disputada pelas grandes potências mundiais e por potências médias para atender aos mais diferentes interesses. Ainda sobre as ruínas do neocolonialismo e suas consequências trágicas culturais e econômicas, este espaço não apresentou um processo evolutivo do capitalismo devido a sua proximidade com a Europa e sua expansão nos primeiros passos da mundializa­ção capitalista do século XV. A África subsaariana é o novo e último espaço para o capitalismo alcançar sua universalidade e, consequentemente, estabelecer sua dominação generalizada pelo planeta e de fato chegar ao chamado “fim da história”. (FUKUYAMA,1989) Nesse caso, considerando a China como um caso peculiar a ser estudado. Nesta “nova” arena os principais países do sistema mundial e alguns países de segundo escalão estão colocando em ação suas geopolíticas “soft power”, em geral, para atingir as maiores vantagens comparativas possíveis.
Desde o final do século XX e este início do XXI, o panorama subsaariano vem apresentando atrativos na esfera econômica, que atiçam a cobiça das potências mundiais e suas empresas, que acabam contribuindo para a manutenção de um espaço desarticulado e um Estado decadente, incapaz de garantir suas premissas sócio-econômicas devido à cobiça que promove nas classes dominantes cooptadas locais. Com isso, os países subsaarianos tornam-se presas fáceis dos diversos interesses dispostos nas diversas esferas da vida dos países, que não adotam nenhum critério seletivo nas parcerias propostas e as possibilidades de consolidação das suas estruturas ficam comprometidas. Essa falta de objetivos é, possivelmente um ranço do colonialismo e suas artificialidades políticas e sociais, como também da Guerra Frias e suas influências nefastas para a formação da jovem região independente.
Após o fim da Guerra Fria, as potências centrais e algumas potências médias, entre elas o Brasil, volta­ram seus interesses para o último (além da Antártica que, por força de suas condições naturais e do Tratado Antártico, continua preservada) espaço mundial ainda não totalmente inserido na dinâmica da globaliza­ção – a África Subsaariana com sua diversidade a ser explorada pela lógica neoliberal. Lógica essa que trás em seu bojo uma gama de práticas que seduzem as classes dominantes e médias de países que procura­ram a modernização de suas sociedades, com a idéia de acesso fácil às inovações tecnológicas ao custo de uma flexibilização econômica e política em prol do capital internacional. (CARVALHO. 2002)
Na década de 1990, surgiu uma concepção po­lítica abrangente entre as grandes potências (como também na ONU) de que o engajamento delas se fazia necessário para garantir um futuro mais promissor para a África Subsaariana. Europeus e norte-america­nos lançaram propostas assistencialistas para a região, no intuito de remediar a tragédia subsaariana com a canalização de recursos dos países ricos, a fim de modernizar o sistema de produção dos países mais carentes, tendo por base a criação de um sistema eficiente de produção em alguns setores primordiais da economia da região. Porém essas iniciativas, retó­ricas ou não, foram paulatinamente superadas pelos interesses econômicos imperialistas de um capitalismo globalizante e pelas dificuldades endógenas que a região subsaariana apresentava. (PIMENTEL. 2000) Na intersecção dessas duas variáveis, a região subsaariana tornou a agonizar, em virtude do recrudescimento da violência de diferentes naturezas e das epidemias que se alastraram num meio historicamente carente, provocando um enorme sofrimento da população. Os conflitos anteriores, alimentados pela Guerra Fria, continuaram devido à marginalização estratégica da região no período subseqüente e também devido aos paradigmas coloniais que subsistiram.
Passado esse hiato do pós-Guerra Fria, novas geopolíticas nacionais estão materializando inte­resses distintos, num espaço de grande diversidade e com traços colonialistas que se imbricam à nova realidade do continente, quase cinquenta anos após o processo de independência. As potências usam di­ferentes práticas de penetração política e econômica e se sobrepõem às políticas locais e aos interesses do principal país da região, a África do Sul. Contu­do, todos enfrentam os paradoxos de uma região com uma história que penetra na antiguidade, cujos valores culturais perpassaram pelo colonialismo eu­ropeu e por suas conseqüências e são vivificados na atualidade. Soma-se a isso, por um lado, a presença dos países ocidentais e seus paradigmas, constituindo ideais de legitimação civilizacional, que entram nesse jogo geopolítico de acumulação de poder na porção subsaariana da África. Por outro, as potências orien­tais legitimadas por diferentes valores, mas atuando com os mesmos objetivos na busca de vantagens comparativas. (FIORI, 2007)
O caráter destoante da política externa brasileira no sentido da autonomia subsaariana com uma ge­opolítica humanista, segundo o discurso das autori­dades políticas, corrobora a idéia da universalização capitalista e seu aparato legal e confirma a ação do país de alinhamento ideológico com os países que comandam o sistema mundial. O Brasil atua no sentido de colaborar com as potências mundiais e médias interessadas na região subsaariana usando as opções disponíveis no sistema mundial para países classificados como potências médias, procurando contrabalançar uma ação humanitária na África, com a participação nos fóruns liderados pelos países ricos. O que segundo Andrew Hurrell (2009), leva o Brasil a praticar o “bandwagoning” (indica o ato de aliar-se com as potências mundiais e agir livremente no cenário internacional servindo às finalidades de longo prazo a essas potências. O termo foi originalmente usado pelo cientista político Stephen Van Evera.), uma vez que contribui para uma organização do espaço subsaariano, que pode vir a ser mais útil ao sistema capitalista, contudo correndo o risco de latinizar economicamente a região subsaariana.
Dessa forma, as perspectiva para a África subsaariana podem ser positivas no sentido da sua organização do espaço e da consolidação do Estado, porém, numa projeção mais de longo prazo, o que se observa é uma continuidade das práticas já desenvolvidas pelas economias mais desenvolvidas em estruturas mais adequadas ao capitalismo. Os anseios subsaarianos parecem não ser considerado na suas diversidades, o ‘etnocentrismo’ capitalista não levam em conta as questões endógenas das populações locais, como fez com a América Latina. O Brasil precisa repensar sua geopolítica subsaariana, no sentido de reforçar as estruturas que garantam uma autonomia para os países, de forma que suas escolhas tenham espaço de manifestação interna e externa. Se de fato o país possui o compromisso declarado pelo governo de Lula e que ela se transforme numa política de Estado.

Bibliografia
CARVALHO, Leonardo Arquimimo. Geopolítica e Relações Internacionais. Curitiba. Juruá Editora. 2002.
FIORI, José Luís. O Poder Global. São Paulo. Editora Boitempo. 2007.
FUKUYAMA, Francis. The end of history. EUA The national interest. 1989.
HURRELL, Andrew. LIMA, Maria Regina S. HIRST, Monica. MACFARLANE, Neil. NARLIKAR, Amrita. FOOT, Rosemary. Os BRICs e a Ordem Global. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2009.
        PIMENTEL, José Vicente de Sá. Relações entre o Brasil e a África. Brasília. RBPI vol 43,        número 001 p.05-23. 2000
Postado por: Maria Teresa S. e Silva

Um comentário:

  1. O blog ficou muito bonito e rico em informaçoes, parabens.
    Denomina-se África-subsaariana a região que contêm os países africanos situados ao sul do deserto do Saara. Desde o século XIX, este território começou a ser conhecido com a expressão África Negra pelos ocidentais, descrevendo uma região habitada por indivíduos da raça negra que não havia sido descoberta ainda, nem colonizada pelos europeus. Este termo caiu em desuso e foi catalogado como pejorativo. Esta região do globo é tida como o berço da humanidade.
    Desde o fim da era do gelo, o norte e a região sub-saariana encontraram no deserto do Saara uma fronteira natural e quase intransponível, salvo pequenos atalhos como o rio Nilo. O termo sub-saariano encontra um sinônimo em África tropical, tentado destacar sua diversidade ecológica, ainda que a parte austral tenha um clima totalmente diverso.

    Os países que formam a região são: Congo, República Centro Africana, Ruanda, Burundi, África Oriental, Quênia, Tanzânia, Uganda, Djbouti, Eritréia, Etiópia, Somália, Sudão, África Ocidental, Benin, Burkina Faso, Camarão, Chade, Cote d’Ivoire, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Libéria, Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.

    A África sub-saariana é considerada por muitos como a região mais pobre do planeta, nesta parte da África estão localizados os países (33 dos mais pobres que existem) com grandes problemas estruturais sofrendo os graves legados do colonialismo, do neocolonialismo, dos conflitos étnicos e da instabilidade política. A expectativa de vida não ultrapassa os 47 anos, o índice de alfabetização de adultos atinge 63%, e o nível de escolaridade chega a 44%.

    O enorme crescimento populacional, durante a década de 1990, acarretou no aumento de pessoas vivendo em condições extremas de pobreza. Mais da metade da população sub-saariana, uns 300 milhões de pessoas, sobrevive com menos de um dólar por dia. Milhões destas pessoas vivem na mais absoluta pobreza, privados de água potável, moradias dignas, alimentos, educação e acesso à educação.

    A falta de água gera problemas devastadores para a região, além disso, a situação se agrava devido aos períodos de seca e pela desastrosa gestão dos recursos hídricos. Tudo isso causa fome e doenças, provocando o êxodo de muitos nativos.

    A África sub-saariana é a região mais afetada pelo HIV, nos últimos anos, numa faixa de terra que vai desde a África Ocidental até o Oceano Índico. Hoje existem mais de 35 milhões de órfãos na África sub-saariana, calcula-se que, destes, aproximadamente 11 milhões são órfãos pelo fato de seus pais terem morrido em decorrência de doenças causadas pelo vírus HIV.
    Thais Pacievitch

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